O artista, que também foi compositor e ator, era descendente de imigrantes italianos e nasceu em Valinhos, no interior paulista. Aos 22 anos mudou-se para São Paulo e sua música tornou-se referência da boemia paulista. Adoniran, batizado João Rubinato, faleceu aos 72 anos no dia 23 de novembro de 1982 e está sepultado no Cemitério da Paz, no bairro do Morumbi, em São Paulo. Adoniran gravou seu último disco em 1980, com participações de Djavan, Clara Nunes, Elis Regina e o grupo MPB-4. |
João Rubinato, o sétimo filho de imigrantes italianos, nascido e criado em Valinhos, interior de São Paulo, em 1908, só passou a se chamar Adoniran Barbosa em 1937. Conheceu os mais diversos ofícios na luta pela sobrevivência, passando por vários empregos até chegar à Rádio Cruzeiro do Sul, sua porta de iniciação no mundo artístico.
De calouro "gongado" a intérprete de vários personagens de sucesso no rádio, criados especialmente para a fala de Adoniran Barbosa, misto de caipira e sotaque italiano dos imigrantes da época, o compositor manteve características dessa linguagem em todas as suas criações. Ao se fixar em S.Paulo, o bairro do Bexiga, onde morou, e toda a vida local foi tema permanente de suas composições. Fatos verídicos e personagens reais foram cantados em Saudosa Maloca e Samba do Arnesto (1955).
Sabe-se que o Samba do Arnesto enfrentou problemas para ser gravado. O "nóis vai, nóis vorta" e outras expressões tão encantadoramente caipiras não eram bem aceitas pelas gravadoras. Mas depois de gravado foi um estrondoso sucesso. Seguiram-se outros sucessos: Iracema, Progréssio, Abrigo de Vagabundos, Tiro ao Álvaro, e com a marcante interpretação do conjunto vocal Demônios da Garoa, o Trem das Onze em 1965.
Aracy de Almeida, sua grande amiga, lhe deu para musicar o poema Bom dia, Tristeza, e assim foi estabelecida a parceria Adoniran Barbosa-Vinícius de Morais.
"Se chegue, Tristeza. Se sente comigo aqui nesta mesa de bar. Beba do meu copo, me dê seu ombro, que é prá eu chorar. Chorar de tristeza. Tristeza de amar."
A produção musical de Adoniran Barbosa inclui mais de 200 obras, muitas feitas especialmente para o cinema, onde participou como ator de alguns filmes (O Cangaceiro, O Pif-Paf, e Caídos do Céu). Também participou de alguns programas humorísticos de televisão, entre os quais Papai Sabe Nada, ao lado de Renato Côrte Real.
Os dois maiores sucessos de Adoniran Barbosa - Saudosa Maloca e Trem das Onze - lhe permitiram construir a casa onde viveu tranqüilamente até 1982, com sua mulher. Ao sambista paulista a cidade de São Paulo prestou a mais justa homenagem batizando vários logradouros com seu nome.
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RELEMBRE ESSAS CANÇÕES
Dá licença de contá
Que aqui onde agora está
Esse adifício arto
Era uma casa véia
Um palacete assobradado.
Foi aqui, seu moço
Que eu, Mato Grosso e o Joca
Construimo nossa maloca.
Mais um dia
Nóis nem pode se alembrá
Veio os home cas ferramenta:
O dono mandô derrubá.
Peguemos todas nossas coisa
E fumos pro meio da rua
Apreciá a demolição
Que tristeza que nóis sentia
Cada táuba que caía
Duia no coração
Mato Grosso quis gritá
Mas em cima eu falei:
Os homens tá coa razão,
Nóis arranja outro lugá.
Só se conformemo quando o Joca falô:
"Deus dá o frio conforme o cobertô"
E hoje nóis pega as páia
Nas grama do jardim
E prá esquecê nóis cantemos assim:
Saudosa maloca
Maloca querida,
dim-dim-donde nóis passemo
os dias feliz de nossa vida.
SAMBA DO ARNESTO
Prum samba, ele mora no Brás,
Nóis fumos e num encontremos ninguém
Nóis vortemo cuma baita duma réiva
Da outra veiz, nóis num vai mais.
Nóis não semo tatu!
Noutro dia encontremo com Arnesto
Que pediu discurpa
Mais nóis não aceitemo
Isso não si faiz, Arnesto,
Nóis não si importa
Mas você divia ter ponhado um recado na porta.
"Oi turma, num deu pra esperá"
Isso num tem importância,
Num faiz mal. Sabe o que nós faiz?
O que?
Nós num faiz nada,
porque depois que nós vai, nóis vorta.
Cais, cais, cais, cais curin...
Nem mais um minuto com você
Sinto muito, amor,
Mas não pode ser
Moro em Jaçanã,
Se eu perder esse trem
Que sai agora às onze horas,
Só amanhã de manhã...
Além disso, muié,
Tem outra coisa:
Minha mãe não dorme
Enquanto eu não chegar,
Sou filho único,
Tenho minha casa para olhar.
Eu não posso ficar.
Trem das Onze - Vídeo
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